segunda-feira, maio 07, 2007
















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BRASÍLIA - Cineasta mais polêmico do Brasil desde a Retomada, o pernambucano Cláudio Assis (na foto acima - Divulgação/ Aline Arruda) encerrou o Festival de Brasília este sábado mostrando que não é o "gênio de um filme só" como seus detratores dizem por aí.

Na briga pelo Candango de melhor filme, "Baixio das bestas" é um mergulho radical do diretor de "Amarelo manga" na violência que assola a zona canavieira de sua terra de origem. Toda a sorte de mazelas humanas desfilam pelo filme, clicadas pelas lentes de Walter Carvalho, em nova colaboração com Assis. Nesta entrevista, o diretor cobra do cinema mais perplexidade em relação ao que acontece nas ruas.

Rodrigo Fonseca - Desde o episódio em que você chamou Hector Babenco de imbecil, a mídia te elegeu o doidão de plantão da cultura audiovisual brasileira. Mas o que há no seu discurso para além da loucura?

Cláudio Assis - O que quer eu faça particularmente, se eu bebo, se eu cheiro, se eu dou, nada disso interessa a ninguém. Eu tenho mulher, tenho um filho pequeno e sustento os dois, pago minhas contas, toco meus projetos. Minha vida é um problema meu. O que as pessoas precisam é ouvir o que eu tenho a dizer, olhar o que eu faço, não o que eu sou. Minha luta é para dizer alguma coisa. Ganho as pessoas pelo meu discurso, ao mostrar que o cinema que se faz hoje no país é um cinema culpado. Eu não tenho culpas.

R.F. - Não há rancor em "Baixio das bestas"?

C.A. - "Baixio das bestas" pega muitas coisas que eu vi, menino ainda, e coisas que eu testemunhei ao longo da juventude. As pessoas estão acostumadas a lidar com o Nordeste como sertão, mas se esquecem de que a Zona da Mata tem uma infra-estrutura ainda pior. Não há sequer uma fornecedora de água mineral da região. Eu fui operário do departamento de estradas quando jovem e vi a miséria que há por lá. O que eu pretendi com meu filme foi discutir a violência contra a mulher, a força do machismo. Nada disso mudou até hoje. Quero fazer um cinema que faça as pessoas pensarem.

R.F. - Na estréia de “Amarelo manga”, você disse que o cinema brasileiro é regido pelo coronelismo. Ainda é assim?

C.A. - Todos os povos de origem colonizada têm mania de coronelismo. Tem pessoas aí que tiveram uma história maravilhosa no cinema, mas que hoje não são mais o que eram. Não dá mais para um produtor achar que é o capitão do cinema. É preciso deixar as coisas acontecerem.

R.F. - Você tem um filho de dois anos, Francisco, circulando no seu colo em Brasília. Que cinema você quer que ele veja?

C.A. - Meu cinema existe para fazer as pessoas pensarem. Sem ser panfletário. Minha bandeira é a qualidade e a honestidade. Mas eu quero fazer filmes divertidos, não panfletos.

R.F. - Que Brasil você não quer que Francisco conheça?

C.A. - O que me preocupa hoje no Brasil é a falsidade, a hipocrisia. As pessoas ainda acham que o que vale é a dominação. Aí entra a força do audiovisual. Para estampar a honestidade.

É a vida!
Agora sim! sem mais delongas.