sexta-feira, junho 15, 2007

Por mim vai-se à cidade que é dolente, por mim se vai até à eterna dor, por mim se vai entre a perdida gente. Moveu justiça o meu supremo autor. divina potestade fez-me e tais a suma sapiência, o primo amor. Antes de mim não houve cousas mais do que as eternas e eu eterna duro. Deixai toda a esperança, vós que entrais. Estas palavras em letreiro escuro escritas vi por cima de uma porta; e disse: ''Mestre, o seu sentido é duro''.­ Então ele, avisado, me conforta: Convém deixar aqui temor secreto; convém toda a vileza seja morta. Viemos ao lugar onde o aspecto verás, to disse, à gente dolorosa que já perdeu o bem do intelecto.­ E quando a sua mão nas minhas pousa com ledo rosto, e assim me confortei, me descobriu tanta secreta cousa. Suspiros, choros, gritos escutei ressoando no ar baço de estrelas, de quanto ao começar também chorei ­ Línguas várias, horríveis falas delas, e palavras de dor, acentos de ira, vozes altas e roucas, batedelas de mãos com mãos, tudo em tumulto gira, naquela aura sem tempo destingida, como areal que um turbilhão aspira. E com a cabeça de erros só cingida, eu disse: ''Mestre, que ouço? pela dor, que gente é esta agora assim vencida?'', E ele a mim: ''É o mísero valor daquelas almas tristes em seu choro que foram sem infâmia e sem louvor''.

Trecho do livro A Divina Comédia, de Dante Alighieri
CANTO III [Porta do Inferno. Os primeiros condenados. O rio Aqueronte e o arrais Caronte. Terramoto e desmaio de Dante.]


Há quem ache Prolixo
?

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