quarta-feira, junho 13, 2007

PENSANDO (Denise Santiago)

Passava a tarde como se voasse num vento perdido
Passava o dia como se fosse um doce comido
Passava a noite dormindo
Sonhava acordada

Passavam anos e os canos furados na telha molhavam o piso
Passavam os anos e as estrelas no céu eram um aviso
Passavam amores vazios, todos atrás do osso
Passavam rimas e regras e as escolhas eram feitas na tensão do alvoroço

Passavam danos e os dentes cerrados trancavam o riso

Passavam planos e o medo ruía os desejos sem prévio aviso
Passava rente à frente do forte inimigo
Passava crente que a morte fosse o maior perigo

Passava sempre a vontade de falar
Passava pela manhã, apressada, entre os detritos à beira-mar
Sem parar de pensar

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