quarta-feira, agosto 08, 2007








Crença e aparência
Bernardo Almeida

Quem crê no amor e nunca chorou
Dificilmente amou.
Quem crê no amor e nunca sofreu
Dificilmente amou.
Quem crê no amor e nunca perdoou
Dificilmente amou.
Mas quem ainda crê no amor?
O amor foi reduzido a desejo
Passageiro, ligeiro
Um sem número de parceiros.
Companheirismo é piegas.
Amar alguém é tão brega...
A sinceridade está de braços cruzados.
A cumplicidade tirou férias.
E o compromisso se aposentou...
Mas quem ainda crê no amor?
Livre de interesses materiais,
Repleto de saudades e lembranças...
Os corações estão trancados.
Protegidos contra danos.
Todo mundo é tão sério e prudente.
Falta coragem para amar.
É mais fácil possuir do que se entregar.
Mas quem ainda crê no amor romântico?
O que era sentimento verdadeiro...
Não passa hoje de um jogo entre parceiros...
A morte já não separa os casais.
O amor morre muito antes.
O vinho é transformado em água.
Sem sabor, gosto ou cheiro.
Sem emoções e sem feições.
Quem veio ao mundo e nunca amou
Falar sobre a vida não pode.
Porque nada sabe.
Porque nada aprendeu além de futilidades.
Porque nada sentiu além do trivial.
Porque nada entendeu além do óbvio.
Porque, ainda que vivo, nunca viveu.

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